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October 03, 2017

Sua obscuridade e a minha

Do Reino da Aparência

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      Como vivemos certamente na sociedade mais superficial da história, a sociedade moderna, a aparência é rainha indiscutível do critério. Aparência pessoal, aparência social e também a aparência das opções ideológicas e éticas. Nos acostumamos a que o aspecto exterior seja suficiente para julgar a diversidade do universo, como se a realidade fosse um gigantesco expositor de supermercado. Temos pressa e não podemos deter-nos muito na análise das coisas; a profundidade requer tanto tempo... Uns escassos sinais exteriores de identidade, na maioria das vezes somente referências estereotipadas, servem ao homem moderno para rapidamente identificar e classificar os múltiplos encontros da vida. Antes ocultavam dos servos as chaves do mundo, os mantinham isolados. Hoje os convencem de que não têm tempo para debruçarem-se sobre elas, os mantêm ocupados.

      "Sinistro" é então, na nossa modernidade, também uma mera aparência, um rótulo. Ao menos no início. Qualquer pessoa pode alcunhar a si mesma como "sinistra", e na maioria dos casos sentirá que sua autenticidade dependerá de adotar a aparência correta. Talvez vestindo-se de determinada maneira, talvez escutando um certo tipo de música, talvez até mesmo frequentando determinados ambientes. E se trocarmos o rótulo "sinistro" por "satanista" ou "satânico", a coisa não mudaria fundamentalmente.

Entediado no aquelarre

      Geralmente me custa socializar em ambientes "satânicos" ou "sinistros", porque costumo somente encontrar pessoas que estão em desacordo com a minha visão de mundo. Embora me pareça cativante o Baphomet que transportam em torno de seus pescoços, ou que falem sobre LaVey como se tivessem jantado com ele na noite anterior. É mais triste a decepção do que a solidão, então devo dizer que não é um prazer absoluto os conhecer. Também encontro pessoas interessantes nesses círculos, mas me parecem demasiado poucas. Os mundos "sinistros" e "satânicos" não selecionam por si mesmos um tipo específico de indivíduos, e sim estão completamente abertos para pessoas atraídas pelas mais inimagináveis razões a ​​esta opção do mercado de aparências.

      Me perguntava o que incomodamente me sussurrava com um chiado nestes encontros com aqueles cuja aparência indicaria que são meus iguais. Depois de muito meditar — sem a pressa moderna — cheguei à seguinte conclusão: Em muitos "sinistros" vejo que seguem reinando ufanos os dois mais contumazes inimigos que existem até agora: o Ego e Deus.

Os egos "sinistros"

      Há uma grande confusão nos ambientes do caminho da mão esquerda, e do satanismo moderno em especial, em caracterizar qual é a dimensão pessoal que confrontaria a moral de rebanho. O ego não é a identidade profunda e autêntica de cada pessoa, e sim uma mera construção social, uma instável auto-imagem pública, baseada mais uma vez nas aparências e abarrotada de modismos sobre o êxito pessoal de determinada época e lugar. A autêntica identidade não para de mudar, enquanto o ego necessita crer-se firme e imutável, eternamente igual. Por isto se dão tão mal.

      Na identidade profunda habita o que Crowley chamava de a Verdadeira Vontade, essa força que, quando desperta, consegue pôr "a inércia do universo a seu favor". Porém a vontade superficial do ego é simples hedonismo, complacência na posse circunstancial de coisas, dependência dos cânones de prestígio de uma determinada sociedade, mera impaciência pela satisfação dos caprichos do momento.

      Tenho visto demasiados satanistas não venerando-se, e sim venerando seu ego. Para eles o satanismo é somente uma cômoda ideologia da desculpabilização, uma desculpa que lhes livra da penitência pelos pecados aprendidos. Apenas um álibi para se entregarem sem arrependimentos a suas perversões pequeno-burguesas. O satanismo lhes serve para não ter que respeitar, para não ter que perguntar antes, para poder aproveitar, confundindo a grosseria com uma ética liberta dos grilhões morais. Por fim, o satanista do ego, como o tio que há em todas as famílias, é um vagabundo.

      E, claro, um arrogante. Nos círculos com as aparências apropriadas, um "mestre". Creio firmemente que há mais mestres nos ambientes sinistros que em toda a Federação Internacional de Sindicatos de Ensino. Os discordianos começam pelo grau de padre, parece que os "sinistros" pelo de mestre. Quantas caretas de condescendência ante os "não iniciados", quanto clichê em "tudo isto é muito mais complicado", quanta displicência dos profundos "segredos" que não se pode revelar. E quanta ameaça velada de terríveis feitiços, sempre destrutivos como convém a um ego inseguro que suspeita de risos por todas as partes. Enfim, quanto fanfarrão de negro.

Os deuses "sinistros"

      Creio que o laço mais forte que me une a Satã, o que propiciou nossa paixão à primeira vista, é o ódio em comum a todo tipo de versões e variantes da ideia de Deus. Não importa que no altar haja somente um (deus), ou vários em fila, ou até mesmo um dentro de outro como nas bonecas russas. Que sejam representados por símbolos geométricos, figuras humanas, animais, ou todos juntos. "Deuses" quer dizer vontades acima da sua, leis que não podem ser discutidas, limites que não se pode explorar. Esse invisível Deus que nunca responde também representa uma imagem do ser humano e de sua vida como algo miserável, minúsculo, sempre necessitado. Toda crença em deuses necessita de auto-humilhação.

      Converter Satã — Set, Lilith, Lúcifer, dependendo das preferências "sinistras" — em um deus é seguir crendo em Deus. Livrar-se do cristianismo e de seu lamentável deus Jesusito mediante o método de abraçar um novo deus, ainda que superinfernal, é fazer como as pessoas que na primeira metade do século XX se desengancharam da morfina com a heroína. Os satanistas ocidentais que "adoram a Satã" estão reeditando assim, ainda que não admitam, o único deus que realmente conhecem, a figura de Deus por excelência que lhes foi ensinado desde pequenos: o Deus judaico-cristão. Por isto alguns inclusive chamam Satã de "pai", utilizando literalmente um dos atributos divinos centrais da Bíblia. De onde vem esta preferência por caracterizar a relação com o Demônio como pai-filho? Ainda que o pai neste caso possa ser imaginado como sendo mais divertido, um autêntico papai-diabo, a eleição tem a marca inconfundível do mito autoritário bíblico, que imagina uma humanidade infantilizada constantemente admoestada por seu progenitor. Estou seguro de que um satanista educado no budismo não sentirá a necessidade de chamar o Demônio de "pai".

      Assim minha insatisfação com uma grande quantidade de "sinistros" e "satânicos" se deu porque eu buscava a companhia de espíritos audaciosos e rebeldes, para trocar experiências de lutas, e me deparei com arrogantes rezando.

October 03, 2017

Preparação para rituais herméticos

      Geralmente os rituais ou trabalhos herméticos são realizados devido a um desejo específico, e é importante que antes que comeces um ritual mediante uma determinada técnica, tenhas uma clara ideia da natureza desse desejo. Isto é, deves ter uma ideia precisa — em tua imaginação ou em palavras — do objetivo que te propões alcançar ao utilizar a magia.

      É importante que este propósito seja concreto — isto é, que se limite a uma coisa. Uma vez que tenhas definido o que queres conseguir mediante a magia (e pode ser qualquer questão: riqueza, êxito, amor, saúde, malefício a alguém), dedica-te a pensar possíveis visualizações que representem claramente teu objetivo. E busca também alguma frase simples e evocadora que condense esse objetivo.

      A visualização escolhida não deve ser demasiado complexa. Por exemplo, se desejas obter êxito em uma entrevista de trabalho, visualiza-te recebendo uma carta que confirma este êxito, ou imagina-te vestido para a entrevista ouvindo alguém dizer-te: "Em boa hora. Estamos dispostos a oferecer-lhe...". Se, por um lado mais obscuro, queres prejudicar alguém mediante a magia, escolha uma visualização que consista nessa pessoa experimentando alguma forma de sofrimento. Por exemplo, imagina sua cara retorcendo-se por causa de horrendas dores no estômago. Uma vez que tenhas eleito a visualização apropriada, siga desenvolvendo-a em tua mente durante vários dias antes do trabalho que vais realizar, porém sem introduzir emoção alguma. Selecionar uma frase que represente teu propósito é bastante simples — por exemplo, para conseguir o amor de alguém: "Que X caia de amores por mim". Como no caso da visualização, repita amiúde a frase nos dias anteriores ao trabalho, novamente sem emoção.

      As técnicas da magia hermética têm como objetivo fazer surgir a partir do teu interior uma frenética força que possa ser controlada. Uma poderosa onda de energia física e emocional. Esta energia é direcionada pela visualização à vibração da frase escolhida.

      Teu objetivo durante um trabalho deve ser perder, quase por completo, o controle de ti mesmo, por meio de uma emoção apropriada para o tipo de trabalho (porém isto não é aplicável, por exemplo, à magia interna e à maioria das técnicas curativas herméticas). Deixa que o movimento de teu corpo ajude a sacar esta energia de ti — e não tenhas medo de rir, chorar, ou berrar durante o trabalho.

      Um trabalho deve deixar-te exausto tanto física como mentalmente. Se não for assim, é porque não aplicaste nele esforço suficiente. Prepara bem de antemão teu trabalho: Reune os materiais necessários, encontra um espaço apropriado, prepara a área selecionada. Sinta antecipadamente tanto o prazer do trabalho como o poder mágico que vais provocar e controlar. Tenta manter-te em um estado de ânimo expectante e excitado pensando no dia do ritual, porque isto incrementará o poder do trabalho. Não te preocupes com seu êxito: deves crer que vais se sair bem, que tua vontade, por meio da magia, controla tua própria vida. Sinta o poderoso Destino do mago — é muito útil fazê-lo nos dias anteriores ao trabalho, se queres desempenhar conscientemente o papel de feiticeiro(a). Rodeia-te de objetos de interesse mágico, queima incenso em tua casa, carrega algo que sintas que é mágico, vista-te de determinada maneira (por exemplo, todo de preto). Corta uma vara de avelaneira e grava nela símbolos mágicos. Escolhe um nome mágico para ti e grava esse nome na madeira.

      Se assim te preparaste, estarás pronto para iniciar o trabalho e disposto para desatar o poder atávico que há dentro de ti.

October 03, 2017

LaVey sobre as bandas "satânicas"

   "De fato a simbologia satânica é a única coisa que mantém vivo certo tipo de rock nos últimos anos. Desde a MTV, as bandas se baseiam inteiramente no visual. O que mais poderiam vender? Realmente não podem basearem-se em nenhum mérito musical... Os jovens atualmente compram discos como se fossem credenciais que indiquem serem membros de algo. Reconhecem que não escutam as palavras, que somente lhes agrada o que o visual transmite — e a imagética satânica é a mais impressionante. Ademais obtêm a sensação de serem rebeldes, coisa que a maioria dos jovens necessita. A indústria musical não têm muita coisa para vender, por isso foram em busca dos ícones mais poderosos que pudessem encontrar — o Satanismo. Porém — com a exceção de King Diamond, que tem a valentia de apoiar abertamente o Satanismo e não oculta sua dedicação a ele — todas estas bandas negam estrondosamente as acusações de estar defendendo a adoração do Diabo — tudo é somente uma brincadeira... Não é nada mais que a velha história de usar o nome do Diabo para rechear os bolsos, sem querer jogar realmente o jogo do Diabo."

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